A cláusula de não competição como uma disposição contratual de proteção

As cláusulas de não concorrência, também conhecidas como non compete clauses, têm ganhado cada vez mais relevância no âmbito das relações contratuais, especialmente na esfera trabalhista e empresarial. Sua principal função é proteger informações estratégicas e confidenciais de uma empresa, impedindo que ex-colaboradores ou prestadores de serviços utilizem tais dados em benefício de concorrentes ou na criação de novos negócios que atuem no mesmo segmento.

Essas cláusulas são, frequentemente, inseridas em conjunto com as disposições de confidencialidade (non disclosure) e de não aliciamento (non solicitation), formando um conjunto robusto de garantias contratuais voltadas à preservação da competitividade e da integridade institucional das empresas.

Finalidade da Cláusula de Não Concorrência

O objetivo central da cláusula de não concorrência é vedar que, após o término do vínculo contratual, o profissional desligado preste serviços para empresas concorrentes ou funde negócio próprio que atue em competição direta com seu antigo empregador. Tal vedação visa a proteger o sigilo de informações sensíveis, bem como resguardar os investimentos realizados pela empresa em capital intelectual, estratégias de mercado, carteira de clientes e know-how.

Validade e Requisitos Legais

Apesar de sua utilidade, a validade da cláusula de não concorrência depende do cumprimento de determinados requisitos legais. A ausência desses critérios pode comprometer a eficácia da cláusula, tornando-a passível de anulação judicial. Os principais requisitos são:

1. Prazo de Duração Razoável: A restrição deve limitar-se a um período temporal justificável, geralmente entre dois e cinco anos, conforme o setor de atuação e o grau de sensibilidade das informações envolvidas.

2. Limitação Geográfica Proporcional: A área geográfica em que a restrição se aplica deve guardar razoável relação com a atuação do profissional durante o vínculo contratual. Restrições excessivamente amplas tendem a ser interpretadas como abusivas.

3. Compensação Financeira Adequada: A cláusula deve prever uma contrapartida financeira pelo período em que o profissional estiver impedido de exercer atividade concorrente, como forma de garantir equilíbrio contratual e respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Para evitar abusos e a nulidade da cláusula de non compete, devem ser sempre observadas as restrições temporais, geográficas e pecuniárias.

Proteção ao Segredo Empresarial

A necessidade de uma cláusula de non compete surge quando uma empresa precisa proteger informações sensíveis e cruciais para seu desenvolvimento. Embora a lei não estipule a obrigatoriedade dessa cláusula, se o prestador de serviços concordar em assiná-la, ele deve cumprir o acordo.

Quando um funcionário ou contratado sai de uma empresa para trabalhar em (ou fundar) uma concorrente, ele leva consigo o conhecimento sobre os segredos dessa empresa. Assim, a concorrente passa a ter acesso às vantagens competitivas relacionadas a esse conhecimento sem precisar investir o mesmo montante.

A proteção ao segredo empresarial é um dos fundamentos centrais da cláusula de não concorrência. Entende-se por “segredo de empresa” qualquer informação, técnica ou não, que seja suficientemente escassa para conferir um valor competitivo em determinado mercado. Esse segredo pode resultar de uma inovação técnica patenteável, que o criador decide manter sigilosa para usufruir dela exclusivamente por um período superior ao garantido pela patente. Além disso, incluem-se como segredos empresariais os chamados segredos de negócio, como listas de clientes, decisões estratégicas, soluções não protegidas pelo sistema de proteção à tecnologia e o know-how, que é o conjunto de conhecimentos e experiências da empresa. Quando divulgados, esses segredos perdem seu valor competitivo, prejudicando o investimento realizado pela empresa em seu desenvolvimento.

A cláusula de não concorrência, consequentemente, visa impedir que isso ocorra, restringindo a possibilidade de o empregado utilizar seu conhecimento sobre as informações confidenciais da empresa até que elas se tornem obsoletas, ou ao menos, tenham a depreciação do seu valor pelo tempo, protegendo o valor do investimento realizado pelo empregador.

É necessário ressaltar, ainda, que a utilização da cláusula de não concorrência é uma ferramenta importante para a preservação do capital intelectual e da posição de uma empresa no mercado.
Portanto, as cláusulas de non compete são fundamentais para proteger as empresas contra concorrência desleal e garantir a segurança das informações estratégicas.

Apesar das limitações e desafios na aplicação, elas são uma ferramenta valiosa para manter a competitividade e integridade dos negócios.

GIOVANNA GUIMARÃES SIVIERI

Graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Atua nas áreas de societário, M&A e contratos empresariais.